Morgado de Mateus: Administrador e Estadista


Extinta a Capitania de São Paulo em maio de 1748, então sensivelmente reduzida em seu território, os habitantes dessa unidade ficaram sob a jurisdição do governador do Rio de janeiro, da qual os atuais Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, em seu conjunto, se tornaram mera comarca como afirma Américo de Moura. Isso significou apenas que a Capitania de São Paulo ficou acéfala durante 17 anos, até que D. José I resolveu nomear D. Luiz Antonio de Souza Botelho e Mourão, Morgado de Mateus, seu governador, por ato de 6 de janeiro de 1765.

Nos dez anos que aqui permaneceu o Morgado, a Capitania, pelo influxo desse fidalgo, ganhou novo alento, graças à atividade agrícola que então passou a ser exercida pelos paulistas, visando à exportação de seus produtos. Povoações foram fundadas, com o fim de reunir a gente esparsa pelo vasto território. Entre essas povoações, figuram Campinas e Piracicaba, em nossa Região. Em documento, autorizado a fundação da povoação da Vila de Iguape, salientava o Morgado de Mateus que isso devia ser feito para congregar as pessoas que viviam esparsas na Capitania. Tais pessoas deviam morar em lugares onde houvesse pelo menos cinqüenta vizinhos. Essa medida se tornava necessária, porque era contra o serviço de Deus viverem em matos, longe do comércio, sem assistência religiosa e sem tempo para prestar serviço à República. Daí o título de "urbanizador", outorgado ao Morgado de mateus pelos historiadores.

No desempenho de sua missão de fundar povoações, era minucioso o Morgado. Temos prova disso com as instruções dadas por ele, em 27 de maio, para arruamento de Campinas. Em outras, suas ordens eram de que no sítio escolhido para a nova povoação deveria existir rio, caça e roças. Quando se fizesse a praça quadrangular, nas povoações recém-formadas, deviam ser colocadas cordas esticadas, para assinalar as ruas e travessas, que deveriam ser retas. Toda povoação devia ter uma igreja.

Até há pouco tempo, a documentação sobre o Morgado de Mateus acessível a nós, brasileiros, se limitava à existente no Departamento de Arquivo do Estado, em São Paulo. Agora, entretanto, com o "Arquivo de Mateus", farto repositório de importantes documentos sobre São Paulo, adquirido pela Biblioteca Nacional do Rio de janeiro, torna-se possível um melhor conhecimento de D. Luis Antonio de Souza, quando à testa do governo paulista. Ainda não toda catalogada, essa documentação pode, entretando, ser manuseada na seção de Manuscritos, daquela Biblioteca.

A bibliografia sobre o Morgado de Mateus é, ainda, escassa, mas os documentos existentes em São Paulo e no Rio, respectivamente no Departamento de Arquivo do Estado e na Biblioteca Nacioanl, se constituem em rico manancial onde os estudiosos poderão haurir farta messe de elementos, sobre a personalidade e a ação dessa fascinante figura de estadista e administrador, que foi o Morgado de Mateus, da qual aqui se apresentam alguns aspectos. A abordagem desses setores representa o resultado de pesquisa, não só nas fontes primárias existentes no Rio e em São Paulo, como em estudos de alguns autores, que ocupam do Morgado de Mateus, como Capitão-General da Capitania de São Paulo.

Correio Popular
Campinas, 14 de fevereiro de 1998
Opinião - Coluna História
Benedito Barbosa Pupo - jornalista e pesquisador do Centro de Memória da Unicamp